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Opinião 
POR RUBEN EIRAS

Moçambique: a potência energética do Índico

Moçambique será, a médio prazo, a potência energética do Índico. As enormes reservas de gás natural e de carvão estão a transformar profundamente a importância geopolítica do país africano oriental de língua portuguesa.

Com efeito, as últimas projeções apontam para Moçambique como um potencial "segundo Qatar", o maior produtor de gás natural liquefeito (GNL) do mundo . Das reservas provadas, aquele país possui a magnífica quantidade de 104 triliões de metros cúbicos de gás, dos quais a empresa portuguesa Galp Energia possui uma fatia de 10% na bacia do Rovuma. Além disso, é neste país onde se descobriram quase 25% das novas fontes mundiais de petróleo e gás .

E se a este factor juntarmos os enormes recursos de carvão, Moçambique tornar-se-á numa década num dos 10 maiores exportadores mundiais desta fonte energética, com a produção prevista de 100 milhões de toneladas (mt) anuais (a Austrália irá liderar com 400 mt).
A nova força geoeconómica Moçambicana

Tudo isto mudou por completo a importância geoeconómica de Moçambique. Dada a sua localização geográfica no Índico, numa zona livre de disputas fronteiriças e sem ameaças de pirataria marítima, o país encontra-se numa posição privilegiada para se tornar num fornecedor seguro de gás e carvão para a Índia, China e Japão.

A Índia necessita de gás natural para diversificar o seu mix de produção de eletricidade, baseado em carvão e nuclear. A China precisa de gás e carvão para alimentar o seu crescimento industrial e urbano. E o Japão necessita de gás natural para transitar o seu sistema de produção de eletricidade baseado no nuclear para o térmico.

Moçambique também está a tornar-se numa plataforma de projeção externa das indústrias de recursos brasileiras. Neste último ponto, destaque para a multinacional brasileira Vale , que para já é a única empresa mineira e exportadora daquela fonte energética.

Portanto, devido à sua nova importância geopolítica, Moçambique pode e deve ambicionar, a prazo, a tornar-se um membro do eixo IBSA , o sub-grupo dos BRICS formados pelas democracias e potências emergentes do Sul, Índia-Brasil-África do Sul .

E o que dizer de Portugal? Com o adequado posicionamento estratégico, o nosso país pode beneficiar em muito desta nova prosperidade energética "em português".

Primeiro, Portugal possui relações ancestrais, e atualmente em bom estado, com todos os países do IBSA e o Japão. Por sua vez, também está de boas relações com Moçambqiue.

Isto significa que as empresas portuguesas possuem o contexto para se posicionarem como parceiras dos diversos projetos e iniciativas que serão levadas a cabo por todas as partes, como também Portugal se promover como país-plataforma acolhedor de serviços empresariais de petróleo e gás das multinacionais de Oil Field Services (OFS) , devido à qualidade do seu capital humano e sistema científico.

Por exemplo, a exploração do GNL irá gerar imensas oportunidades no domínio da indústria naval e da logística, bem como de uma enorme plêiade de outros serviços industrais.
CPLP: a emergência de uma diplomacia energética em português?

Segundo, a afirmação de Moçambique como potência energética do Índico reforça o poder geopolítico do espaço de língua portuguesa na economia global: o Brasil é o país-lider da exploração em águas profundas e Angola é a segunda maior potência energética da África Ocidental. Todos estes países são fornecedores-chave da China, o que frisa a sua importância geopolítica para o Império do Meio.

E, por fim, os recursos energéticos mais valiosos destas nações possuem mais um importante traço em comum: estão localizados no offshore marítimo.

Por isso, é urgente que a CPLP crie as condições para a gestação de uma diplomacia energética estrategicamente articulada, de geometria variável, no espaço de língua portuguesa, congregando os esforços entre os vários países, de forma a proteger os interesses de todos com mais força e eficácia. Portugal pode atuar como um dos dinamizadores e mediadores desta dinâmica cooperativa, que irá beneficiar económica e politicamente todas as nações de língua portuguesa.

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