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Opinião 
POR VÍTOR CALDEIRINHA

Os Portos Angolanos devem ser Hubs de Transhipment e Trânsito

As ligações marítimas que servem o sistema logístico de Angola utilizam cinco portos principais que movimentam cerca de 14 milhões de toneladas de cargas por ano, sem petróleo. O porto de Luanda importa cerca de 10 milhões de toneladas, mais de metade das quais contentorizadas, representando mais de 80% dos contentores movimentados nos portos angolanos. Este movimento é operado em escassa frente de cais utilizável, no limite da sua capacidade operacional e económica, sendo um porto asfixiado pela cidade nas suas acessibilidades terrestres, nas ligações logísticas e na potencialidade de expansão, carecendo de novo porto fora da cidade.

O porto do Lobito movimenta essencialmente granéis e carga geral, com cerca de 2 milhões de toneladas anuais, operadas em escassa frente de cais, apesar de ter vindo recentemente a melhorar. O porto do Namibe movimenta cerca de 600 mil toneladas por ano de carga geral e granéis, mas possui a possibilidade de ampliação do seu cais e terraplenos para um grande porto de águas profundas, o que tem vindo a desenvolver. O porto do Soyo movimenta cerca de 700 mil toneladas de petróleo e o porto de Cabinda movimenta cerca de 200 mil toneladas, possuindo planos de expansão em áreas próximas.

Numa visão estratégica de longo prazo, estimando os tráfegos potenciais de hinterland de Angola com base no crescimento potencial do País, da exportação de minérios e produtos agrícolas e do trânsito terrestre e marítimo com os países vizinhos, visto o seu potencial humano e do subsolo, podemos apontar para um movimento portuário total potencial a 40 anos de cerca de 85 a 125 milhões de toneladas. África deverá ser dos continentes com maiores taxas de crescimento económico e da população nas próximas décadas, pelo que será necessário a Angola preparar de antemão os seus portos, conferindo capacidade para sustentar e puxar por esse crescimento expectável e desejável.

Face ao perfil da procura potencial a 40 anos, poderemos estimar o futuro transhipment em cerca de 25 milhões de toneladas, a carga de importação para Angola e trânsito terrestre para países vizinhos em cerca de 45 milhões de toneladas e a exportação de minérios, produtos agrícolas e transformados em cerca de 45 milhões de toneladas. Estima-se em cerca de 35 milhões de toneladas o trânsito com os países vizinhos.

Uma vez que os portos actuais estão no limite de utilização, com capacidade para cerca de 17 milhões de toneladas, para que os portos possam responder a este desafio, será necessário expandir a capacidade em mais de 80 a 90 milhões de toneladas. O trabalho a fazer no investimento na capacidade dos portos angolanos pode implicar, nos próximos 40 anos mais 10/15 postos de acostagem de graneis com fundos de cais até -17m (ZH). Serão necessários mais cerca de 3/4 km de cais para carga geral com fundos de cais até -12m e mais 5/6 km de cais de contentores, com fundos de cais entre até -17/18m.

O novo porto a Norte de Luanda poderá tornar-se no hub regional de excelência e servir a região Norte e Centro de Angola e todos os países em torno dessa região, por via terrestre e marítima. Para isso deverá ter capacidade, pelo menos, até cerca de 50 a 60 milhões de toneladas de carga, pensada e prevista já de início, nas suas zonas de expansão, prevendo capacidade para cerca de 4,5 milhões de TEU de carga de transhipment, de hinterland e trânsito terrestre (mais 5 km de cais e 25 a 30 pórticos de cais), 10 milhões de toneladas de carga geral (mais 3 km de cais) e 10 milhões de carga de exportação a granel (mais 3 km de cais), bem como uma vasta zona franca industrial e logística imediatamente adjacente ao porto, com ligações rodo-ferroviárias e marítimas de excelência.

Será necessária a ampliação do porto do Lobito para 14 milhões de toneladas de carga a granel/carga geral e mais 1km de cais de contentores com 5 pórticos. Será necessária a ampliação do Porto do Namibe para cerca de 11 milhões de toneladas de granéis/carga geral e mais 500 m de cais de contentores e 3 pórticos. Será fundamental a ampliação do Porto de Cabinda para cerca de 12 milhões de toneladas de granéis/carga geral e mais 1km de cais de contentores e 3 pórticos.

O dimensionamento atempado dos portos de Angola poderão permitir que estes se tornem verdadeiros hubs do País, da região e de todos os países adjacente, potenciando o papel de Angola como entreposto comercial e industrial e assim potencia económica regional. Apesar do investimento dever ser realizado de forma gradual, acompanhando o crescimento das cargas, é necessário para já transferir o tráfego para terminais mais eficientes e com maiores fundos e capacidades, melhorando a qualidade de serviço e ter em consideração estes valores estimados nas áreas de expansão a deixar livres para o futuro.

(estimativas do autor com base em informação económica recolhida na UNCTAD e sites do Governo Angolano)

Vítor Caldeirinha

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