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Opinião 
RAKESH VAIDYANATHAN

Brasil, Índia e o novo Tratado de Tordesilhas

Há mais de 500 anos, a Europa vivenciava um momento único, com as grandes navegações e a descoberta de novos continentes. Espanhóis e Portugueses, sem medo do que estava por vir, foram pioneiros e lançaram-se ao mar em busca do desconhecido. Para crescer e ganhar força, já naquela época, sabia-se da necessidade de buscar novos mercados. Era impossível tornar-se uma potência sem conquistar novos territórios.

O Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, foi um marco para as conquistas do então Reino de Portugal e do Reino da Espanha. O objetivo era dividir as terras, tanto as já descobertas como as por descobrir, entre os dois países. Pelo Tratado, as terras situadas até 370 léguas a oeste de Cabo Verde seriam da Espanha e à leste de Portugal, evitando assim conflitos entre potências católicas.

Hoje, mais de cinco séculos depois, o conceito e a necessidade de se buscar novos mercados prevalecem, ainda mais forte, principalmente no mundo corporativo. Para ser grande e tornar-se uma potência, é preciso cruzar as fronteiras e ir cada vez mais longe.

No atual momento da economia mundial, diante das crises americana e europeia, a inovação e as descobertas ficam a cargo dos países emergentes.
Entre eles, além da China, destacam-se Brasil e Índia. Os dois países, além de promissores, possuem particularidades interessantes pelas quais já começamos a vislumbrar as condições de um novo Tratado de Tordesilhas.

Atualmente, nos países onde há influência indiana, percebemos uma menor penetração do Brasil, como em comunidades da África, países da Commonwealth britânica (formada pelo Reino Unido e por suas antigas colônias), no Oriente Médio ou no Sudeste da Ásia. A influência indiana vem devido à diáspora dos indianos, como publicou recentemente a revista britânica The Economist. Já o Brasil possui mais influência em toda a América Latina e no Sul da Europa, além de Moçambique e Angola, regiões nas quais os indianos não estão presentes.

Nos mercados ricos, esse novo Tratado também pode funcionar. As commodities de chá e de café são exemplos de novos impérios. O Brasil é o maior exportador de café do mundo, mas não possui uma marca que o represente mundialmente e não retém o maior valor deste negócio. Por sua vez, a Índia é a maior exportadora de chá e só possui uma marca expressiva da bebida, que pertence ao Grupo Tata. Diante desta realidade, e enxergando Brasil e Índia como parceiros, é possível supor que, se ambos juntassem forças, dividissem investimentos, compartilhassem operações de logística e criassem valores, uma nova potência de bebidas quentes poderia nascer.

Ao contrário do primeiro Tratado de Tordesilhas, que era sobre conquistas, o novo Tratado será sobre comércio. A nova religião que será propagada não será o catolicismo, mas, sim, a democracia e uma espécie de capitalismo que permite que o talento empresarial prospere. Considerando que muitas nações emergentes estão em busca de modelos para ir além do oeste e da China, cuja economia é dirigida pelo Estado, um novo Tratado de Tordesilhas beneficiará o mundo todo, uma vez que enfatizará um modelo colaborativo entre duas democracias emergentes que promovem o capitalismo de livre mercado.

Rakesh Vaidyanathan é sócio-director da The Jai Group, consultoria especializada em mercados emergentes

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