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GEO 

Na orelha da Antárctida

Às vezes, uma gaivina-do-árctico ou um moleiro soltam um pio. O único ruído que nunca pára é mesmo o do vento. Apesar deste som constante, dos chuviscos, do frio que se sente nos lábios e nos dedos dos pés, a paisagem no planalto da Meseta Norte, na Ilha do Rei Jorge, transmite tranquilidade. Mesmo que estejamos a subir e descer montes, ofegantes.

A Meseta do Norte fica na Península de Fields, a maior área que fica livre de gelo na ilha durante o Verão do Hemisfério Sul. É aí, num dos pontos mais altos desta península, a 147 metros, que Gonçalo Vieira, Carla Mora e Pedro Pina têm andado em trabalho de campo, atrás das manchas de neve que se mantêm de um ano para o outro ou que derretem mais tarde no Verão. Eles chamam-lhes neveiros, peças importantes no estudo das alterações climáticas, e medem-lhes os contornos e a temperatura.

Chamemos-lhes manchas de neve ou neveiros, a paisagem transforma-se numa manta de retalhos brancos que alguém coseu ao chão negro, de origem vulcânica.

Mesmo com chuva e vento, na manhã de quarta-feira a equipa portuguesa, na base de investigação Professor Julio Escudero desde 5 de Janeiro, vai para o campo pela primeira vez desde que chegámos. “Hoje, o tempo está mais antárctico”, comenta Pedro Pina, do Instituto Superior Técnico, em Lisboa.

Primeiro, aproximam-se o mais que podem dos 12 neveiros que já seleccionaram. Vão uns 15 minutos de moto-quatro por uma estrada lamacenta, às vezes atravessada por riachos, que vai deixando para trás os módulos brancos e azuis da base Julio Escudero, misturados com os módulos cor de laranja da base da Força Aérea chilena Frei Eduardo Montalva. Depois há que ir a pé, outro tanto ou mais.

Sobe-se e desce-se montes de rochas escuras lascadas pela acção do gelo, atravessa-se manchas de neve, tem-se cuidado para não cair, nem escorregar no gelo que derrete, e tenta-se não pisar musgos e líquenes, a única vegetação visível por estas bandas.

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