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Opinião 
POR ALEXANDRE CALDAS

Cooperação em Português: da Diplomacia à Acção nos territórios

Três razões (complementares e necessariamente simultâneas) explicam o porquê da aposta no Português e na cooperação com os países de língua portuguesa: a história, a geopolítica, e a economia. Cada uma destas dimensões tem vindo a ser trabalhada e explorada de forma independente e muitas vezes fechada. E não de forma integrada, simultânea e em conjunto. Talvez seja esta a razão principal do insucesso da estratégia no passado.

É necessária uma estratégia integrada de valorização da língua portuguesa enquanto património histórico e civilizacional, do reconhecimento da importância geopolítica da acção nos territórios e de alavancagem de projectos económicos e empresariais em todos os países de língua portuguesa e todas as comunidades de língua portuguesa. Esta estratégia vai muito para além da actual “diplomacia económica” pois valoriza a língua enquanto activo estratégico essencial dos povos e civilizações.

Relembro como se fosse hoje as palavras sábias da Professora Anabela Nunes, catedrática do ISEG em Histórica Económica e Social que firmemente afirmava que o que realmente caracteriza os Povos são: a língua, o território, e a visão do mundo.

O Português é a 2.ª língua mais falada em toda a Europa, e a 5.ª língua a nível mundial. A comunidade dos países de língua portuguesa, não só nos 8 países da CPLP, mas numa diáspora de 4 milhões de portugueses distribuídos pelo mundo, e dos muitos milhões de brasileiros também, constitui uma das maiores comunidades linguísticas, distribuídas geograficamente pelos territórios do mundo. Uma comunidade de quase 400 milhões de cidadãos, portanto muito próxima de toda a população dos mais de 27 países de toda a União Europeia. O património histórico e civilizacional da língua portuguesa ultrapassa no tempo, enquanto Estados-nação quase todas as outras civilizações (excepto os “impérios”). A língua e “visão do mundo” em português são universalmente reconhecidos por quase todos os países no mundo, como historicamente sólidos e consistentes.

Mas o que é singular na língua e visão do mundo em Português, à semelhança dos grandes impérios do passado, é a riqueza da natureza geopolítica da forma como se distribui pelo mundo. E é esta forma distribuída e pervasiva da língua portuguesa que pode constituir o seu maior activo estratégico num mundo global, e acessível …hoje, à distância de um clique nas comunidades electrónicas. Também nos mundos electrónicos do presente e do futuro, a geografia do território global vai ser marcada pela união em torno da “língua”, como elemento de identidade digital. Mais uma vez aqui a importância geopolítica do “português” possui uma vantagem comparativa e competitiva.

As poucas comunidades existentes à escala mundial, de que é exemplo a Commonwealth, que une os países anglo-saxónicos em torno do Reino Unido, estão estrategicamente geograficamente distribuídas pelo mundo. Repare-se como o Reino Unido não “quis” deliberadamente perder as “Falkland”, último reduto da Commonwealth naquele canto do mundo. Da mesma forma, saliente-se como é absolutamente decisiva a cooperação estratégica com Timor-Leste, … e também com Macau, …

Tem-se centrado o debate na vantagem competitiva de Portugal como eixo transatlântico de ligação à Europa…quando potencialmente a nossa grande riqueza geopolítica não se confina neste eixo, mas na natureza “em rede” da sua dispersão pelos 4 cantos do mundo, ao longo da história….e do tempo.

Finalmente, … mas seguramente não menos importante, ou talvez o mais importante, a cooperação económica e empresarial com o mundo em Português. Já passou o tempo da chamada “diplomacia económica”. O que é preciso é uma cooperação efectiva nos territórios da língua portuguesa, com localização de Pessoas, empresas e recursos em todos os 8 países de língua portuguesa. Estar nos territórios tem uma vantagem competitiva muito significativa sobre a gestão remota de relações protocolares ou cerimónias de cooperação Estado a Estado. Da fase dos protocolos …passamos agora à acção nos territórios, com projectos reais, económicos e sociais. Investimentos empresariais comuns, centros tecnológicos e de competências onde o português seja utilizado como língua de trabalho e de contratualização.

Relembro-me de visitar a Roménia há cerca de 8 anos, e na altura enquanto a nossa representação diplomática era constituída pelo Sr. Embaixador e sua esposa, a representação espanhola tinha quase 30 pessoas, dos quais 20 eram técnicos consultores de apoio à nação romena para a futura adesão à União Europeia. O que precisamos é de multiplicar este comportamento por todos os países de língua portuguesa. Com o Brasil, com Timor-Leste e também Macau, com toda a África Portuguesa, Moçambique, Angola, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Cabo Verde. Sempre numa cooperação estável, sustentada, … de duas vias.

Felizmente, começa a ser sentida uma nova diáspora de jovens portugueses, altamente qualificados, nos territórios da língua portuguesa. Para quem, hoje e no futuro, viver junto ao Niassa, no Mepica, em Nampula ou Nova Freixo, tem um significado especial como se fosse em qualquer canto da Europa, Américas, na Austrália …ou Ásia.

Portugueses que fazem da sua vida, a integração da Língua e do Português, a ponte da História geopolítica com o Futuro e comprovam o valor económico e empresarial da cooperação no mundo em Português.

28 de Setembro de 2011

Alexandre Caldas | cienciapt.net