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PURGUEIRA

A «planta do futuro» que viajou nas caravelas da América para Cabo Verde


Viajou do México até Cabo Verde, nas caravelas portuguesas, serviu para iluminar as ruas de Lisboa e ganhou nome por resolver a prisão de ventre. A purgueira já faz voar aviões e perfila-se como uma "planta do futuro".

No Jardim Botânico, em Lisboa, uma equipa de cientistas estuda-lhe há três anos as características, numa estufa onde há "jatropha curcas", nome científico da planta, de 80 proveniências diferentes, de África a Ásia e às Américas, distribuída por três centenas de vasos. Contudo, nem mesmo na estufa se conseguem reproduzir em Portugal as condições de calor e humidade que fazem crescer as purgueiras, que chegam a atingir os cinco metros de altura e a produzir 2,5 toneladas de sementes por hectare, como já acontece na Índia.

O projecto, que inclui a caracterização genética e o estudo das doenças e pragas que atingem a espécie, foi iniciado a pedido de uma empresa que admitia desenvolver aplicações da planta em África, explicou à agência Lusa a investigadora Maria José Silva, 52 anos, coordenadora da equipa.

Na Europa, garante, só a Universidade de Wageningen, na Holanda, está a desenvolver um projecto semelhante com a planta que, tal como o rícino se for consumida em pequenas doses ajuda a combater a prisão de ventre, o que lhe valeu o nome porque foi baptizada em África. Em Cabo Verde chegou mesmo a ser a planta mais abundante.

É na Ásia, contudo, que o uso da planta está mais avançado. A Índia tem as maiores plantações do mundo e, no Japão, uma marca de automóveis está a estudar as pequenas alterações necessárias para comercializar viaturas cujos motores passem a consumir o óleo clarinho das purgueiras.

Para ser usado nos motores a gasóleo, basta ser filtrado, ao contrário dos restantes biocombustíveis, que necessitam de outros tratamentos químicos que penalizam a sua utilização do ponto de vista económico.

"No anos 1960, a Mercedes pôs uma viatura a andar 20 mil quilómetros exclusivamente com este óleo", conta Maria José Silva.

Se o futuro do óleo produzido a partir da planta de cheiro pouco agradável pode passar pela substituição do petróleo e dos combustíveis que fazem mover os automóveis, o presente acontece no ar. Já foram realizados voos de aviões comerciais exclusivamente com óleo de purgueira e há companhias que voam com 50% daquele combustível.

"Há, claramente, em todo o mundo, um forte interesse por esta planta", afirma a engenheira agrónoma do Centro de Ecofisiologia, Bioquímica e Biotecnologia do Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT).

Presumem os cientistas que a 'jatropha' foi levada por marinheiros portugueses do México para Cabo Verde, por volta do século XVI, cumprindo a prática comum na altura de levar plantas de uns continentes para outros.

Apesar de ser usada na alimentação humana na sua origem, no arquipélago então colonizado por Portugal, sem que se perceba ainda porquê, a planta ganhou características tóxicas que impediam as abundantes cabras das ilhas de a incluir na sua dieta.

O facto conduziu à protecção da espécie e contribuiu para a sua multiplicação, nomeadamente para formar vedações naturais, mas décadas depois seriam as próprias autoridades coloniais a incrementar a produção, na altura para fazer sabão com o óleo, que também era usado para aquecimento ou iluminação pelos ilhéus.

Essa utilidade acabaria por levar à sua exportação para Portugal, onde veio substituir o azeite, mais caro, como fonte de iluminação nas ruas de Lisboa, nas décadas de 1830 e 1840, e originar as fábricas de sabão na margem Norte do rio Tejo.

"O famoso sabão de Marselha também era feito com óleo de purgueira", recorda Maria João Silva.

Entretanto, a toxicidade deixou de ser um obstáculo, e foram desenvolvidos métodos que permitem que o bagaço resultante da obtenção do óleo possa ser dado como ração a animais ou usado para fertilizar solos.

Sendo da família da planta da borracha, a purgueira também é rica em latex. Basta arrancar-lhe uma folha para que comecem a brotar gotas desta substância, cujas características estão a ser estudadas, mas que a investigadora do IICT admite poderem ter uma vasta utilização em medicina.

Com mais estas duas vertentes, a purgueira ganha pontos para se tornar na "planta multi-usos" que investigadores viam nela há muitos anos, neste caso numa vertente mais sustentável, ao vir proporcionar alimento para gado e latex às populações das zonas inóspitas onde consegue sobreviver, e a quem já possibilita aquecimento e iluminação, além de evitar a erosão dos solos e a consequente desertificação.

Pelo lado industrial, a purgueira também se apresenta como forte candidata ao pódio das espécies mais rentáveis, para produzir biocombustíveis pela característica que a distingue do milho, do sorgo, da soja, do amendoim ou da palma: não é consumida pelo homem, ao contrário de todas as outras.

E em climas com bastante humidade, as plantas podem mesmo dar duas produções por ano, em vez de uma única.

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Data: 2012-08-26

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