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Português estuda influência das vagas de frio na biodiversidade marinha

No início de 2010, o nordeste do continente americano foi atacado por uma vaga de frio extremo. O investigador português João Canning Clode, que na altura estava a fazer pós-doc no Smithsonian Environmental Research Center, quis saber até que ponto esta vaga de frio afectarias as espécies marinhas, nomeadamente as que têm viajado das Caraíbas para o norte devido ao aquecimento das águas (fenómeno chamado de ‘Caribbean Creep’).

Em conversa com o «Ciência Hoje», o investigador, que se encontra agora a fazer investigação Portugal, explicou o processo da investigação, agora publicada na revista «PLoS ONE». “Começámos a verificar que as espécies marinhas das Caraíbas que se deslocam mais para norte estavam a desaparecer. Por exemplo, o mexilhão verde da Indonésia (Perna viridis) tinha até àquele momento uma população de 11 mil indivíduos e passou a ter zero”, diz.

O animal marinho que o centro conseguiu capturar e estudar foi o caranguejo da espécie Petrolisthes armatus, pois embora a sua população tenha diminuído, não desapareceu completamente. Em laboratório, os investigadores simularam uma vaga de frio similar à que aconteceu e outra mais forte.

Com a simulação, João Canning Clode percebeu que esta espécie “não tolera vagas de frio”. “A população decaiu 70 por cento e com mais frio decaiu 100 por cento”. O cientista conclui, assim, que poderá haver uma “desaceleração” das migrações para norte.

O investigador defende que “os episódios de frio extremo” que se têm verificado, e que são ‘aberrações’ que se devem às alterações climáticas, muitas vezes são negligenciadas nos modelos matemáticos para as alterações climáticas dos próximos 100 anos.

Fala-se de “perda de biodiversidade que tem em consideração o aumento de temperatura. Mas os modelos têm também de ter em conta as vagas de frio”, acredita.

João Canning Clode

Actualmente é investigador pós-doc no Centro do IMAR do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores e também no Centro de Oceanografia da Faculdade De Ciências da Universidade de Lisboa. Licenciou-se em Biologia, em 2005, pela Universidade da Madeira. Três anos depois fez o doutoramento em Ciências Marinhas e Oceanografia Biológica, no Leibniz Institute for Marine Sciences (IFM-GEOMAR), na Alemanha. Rumou depois aos Estados Unidos da América para desenvolver um projecto de pós-doutoramento na Instituição Smithsonian, o maior complexo de museus e investigação do mundo.

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