Opinião

CARLOS ROSADO DE CARVALHO

Angola (re)entra no quadro de honra do crescimento mundial em 2012

Angola deverá regressar este ano ao crescimento dos dois dígitos. Segundo as previsões do Governo, em 2012, o produto interno bruto do país deverá dar um pulo de 12,8% em termos reais face a 2011. As projecções do Fundo Monetário Internacional (FMI) são um pouco menos optimistas apontando para um crescimento de 10,8%. Menos optimista ainda é a The Economist Intelligence Unit (EIU), unidade de investigação económica da revista The Economist, que antecipa uma variação do PIB de apenas 9,9%, ainda assim a roçar os dois dígitos.

O tempo dirá quem tem razão, mas mais do que as percentagens em concreto interessa a tendência e todas as previsões apontam para uma forte aceleração da economia angolana em 2012, depois de 3 anos a marcar passo na ressaca da crise financeira internacional de 2008. Nos três anos que agora terminam a economia angolana cresceu a uns “míseros” 2,4% anuais, considerando a média simples, o que significa que os angolanos empobreceram em termos reais, pois a população cresce 3% ano.

Esta taxa faz do triénio 2009-2011 um triénio de lata, por oposição aos triénios 2004-2006 e 2005-2007, em que o país foi vice campeão mundial de crescimento, com taxas de 17,1% e 21,3%, pela mesma ordem. A confirmarem-se as projecções do governo, FMI e EIU para 2012, o país volta ao quadro de honra do crescimento mundial. A título de exemplo, a taxa de varia real do PIB de 10,8% avançada pelo FMI para Angola o próximo ano é a quinta mais elevada entre os 184 países para os quais a instituição de Washington apresentou projecções em Setembro passado. Melhor só a Serra Leoa, com uns impressionantes 51,4%, Iraque (12,6%), Níger (12,5%) e Mongólia (11,8%).

Se as previsões económicas não passam disso mesmo de previsões, que o tempo se encarrega de confirmar ou infirmar, a incerteza que paira sobre a economia mundial nos últimos anos ainda torna mais difícil o exercício de adivinhar a marcha do PIB. Veja-se o que se passou no triénio 2009-2011.

Em 2009, o Governo começou por prever um crescimento do PIB de 11,8% mas a economia acabou por crescer apenas 2,4%. No ano seguinte as primeiras projecções oficiais apontavam para 8,4% mas a realidade não ultrapassou os 3,4%. Para este ano, as previsões iniciais antecipavam um salto do PIB de 7,6%, mas agora não dão mais do que 1,3%.

E 2012 ainda não começou e o Governo já reviu em baixa a sua primeira projecção, dos 15,5% avançados no OGE 2011 para os 12,8% que constam da cenário macroeconómico do ODE 2012. Apesar dos riscos negativos que pairam sobre a economia mundial — em particular os relacionados com a crise da dívida europeia — que podem afectar o preço do petróleo e por tabela a economia angolana, há factores suficientemente robustos que suportam as previsões de forte aceleração do crescimento angolano. Refiro-me em concreto ao aumento da produção de petróleo que, ultrapassados os problemas técnicos em alguns campos operados pela BP e com a entrada em produção de um campo operado pela Total, deverá dar um salto de 15% em 2012 face a 2011 para mais de 1,8 milhões de barris por dia. O arranque do projecto de gás natural conhecido como LNG é outro factor que deverá ajudar à aceleração da economia em 2012.

As previsões do governo apontam para um crescimento real de 13,4% do sector petrolífero que deverá funcionar como o motor da aceleração ao gerar recursos para alavancar o crescimento de 12,5% do sector não petrolífero. Como referido, pelas contas oficiais, o conjunto da economia deverá acelerar de 1,3% em 2011 para 12,8% em 2012.

Os recursos disponíveis para alavancar o crescimento do sector não petrolífero deverão ser maiores do que o previsto na proposta de OGE 2012 já que esta se baseia num preço do crude de 77 dólares o barril quando as previsões internacionais apontam para 100 dólares o barril.

Por último mas não menos importante, a aceleração da economia angolana deverá assentar em bases mais sólidas. Os progressos registados ao nível da estabilidade macroeconómica, nomeadamente a melhoria das contas externas e públicas, o aumento das reservas de divisas, a estabilidade cambial e a descida da inflação, podem ajudar a tornar o crescimento mais sustentável. Mas não tenhamos ilusões. A estabilidade macro é condição necessária mas não suficiente para um crescimento sustentado.

Todos os diagnósticos apontam no mesmo sentido: a principal maka da economia angolana é a (falta de) competitividade. E nessa matéria as coisas estão praticamente na mesma ou até piores.

No relatório 2010/2011 do Fórum Mundial para a Competitividade que revelamos nesta edição, Angola ocupa uma modestíssima 139a posição entre 142 países, tendo caído uma posição relativamente ao ranking anterior.

Força de trabalho com formação inadequada, burocracia do Estado, oferta insuficiente de infra-estruturas, corrupção e dificuldades no acesso ao financiamento, são os cinco “bilos” mais problemáticos para os negócios em Angola identificados no relatório. É nestes factores de competitividade que os nossos governantes devem concentrar todas as suas energias se quiserem evitar o stop and go do passado recente.

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