Opinião

Novos e velhos parceiros ajudam África de forma complementar

A ascensão dos parceiros emergentes de África foi largamente analisada como uma corrida aos recursos africanos. O cenário global é, porém, mais complexo e mais positivo. As novas rotas comerciais abertas pelos países emergentes criam outras oportunidades para a transferência de tecnologia, e a maior variedade de formas de financiamento e cooperação são um estímulo para os políticos africanos.

Os parceiros emergentes competem pelo acesso aos recursos africanos, mas um olhar mais atento aos fluxos de comércio e investimento revela mais complementaridade do que concorrência – algo particularmente claro no caso da cooperação para o desenvolvimento. A Agenda de Acção de Accra, de 2008, saudou as parcerias de cooperação entre os países africanos e os parceiros emergentes e valorizou a cooperação Sul-Sul como um «complemento valioso para a cooperação Norte-Sul» (Zimmermann e Smith, no prelo). Os parceiros emergentes não são, no entanto, um grupo homogéneo. As oportunidades que oferecem são diversas, tanto em sectores e tipo de produtos comerciáveis como na tecnologia e inovação subjacente, no foco geográfico e no tipo de financiamento. Existem várias complementaridades entre os velhos e os novos parceiros.

Complementaridade nos produtos …
Os países africanos compram às potências emergentes produtos diferentes dos que importam da Europa e da América do Norte. A importação de bens de consumo mais baratos da Ásia ajuda os consumidores africanos a aumentar o seu poder aquisitivo e a melhorar os níveis de vida. Bens mais baratos e mais adaptados ajudam as empresas africanas a aumentar a produtividade e puxam para cima a cadeia de valor. Tipicamente, os fluxos dos parceiros tradicionais concentram-se nos serviços, telecomunicações e serviços. De forma consistente com o ciclo global do produto de Vernon, os parceiros emergentes são mais activos na indústria transformadora e na agricultura.

A Tabela 6.7 ilustra o tipo de bens em que se concentram as exportações para África e revela a complementaridade entre parceiros emergentes e tradicionais. Por exemplo, a concentração em bens primários, combustíveis e produtos transformados está abaixo da média no caso dos parceiros tradicionais e acima da média para algumas potências emergentes. A China destaca-se no quadro das novas potências em termos da vastidão de exportações para o continente, numa comparação favorável relativamente à gama da Europa e da América do Norte. Outros parceiros emergentes têm uma menor gama de produtos, mas em sectores complementares aos dos seus rivais. Em termos de importações, os níveis de concentração no comércio com os velhos e os novos tende a seguir padrões semelhantes, ilustrando a «corrida aos recursos». Os Estados Unidos, juntamente com os maiores parceiros emergentes – Brasil, Indonésia, Índia e China – destacam-se como os «mais sedentos de bens primários» – aqueles para quem o petróleo e os minérios representam uma fatia desproporcional das importações totais.

Existe uma competição clara entre as potências emergentes e tradicionais por minérios, petróleo, pedras preciosas e colheitas agrícolas, o que beneficia os países ricos em recursos e lhes dá mais margem de manobra em termos de decisão política. Mas, a exploração dos recursos naturais não significa somente ganhos para África. As potências emergentes contribuem para a exploração, e prospecção de reservas, através do seu investimento e ajudam a construir infra-estruturas e sistemas de transportes. Estão a alargar a base de recurso exploráveis em África, para além do que os parceiros tradicionais podem fazer. A nota sobre o Sudão deste relatório sustenta que, apesar de o investimento dos parceiros emergentes ser orientado para os recursos, chega com a perspectiva de alavancar empréstimos sustentados em recursos para infra-estruturas cruciais em educação, energia e serviços de utilidade pública.

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