Associativismo

Mercosul e UE podem estar perto de acordo comercial

Pacto poderá ser assinado em reunião da Organização Mundial do Comércio em Buenos Aires. Negociações já se arrastam há 17 anos. Exportação de carne bovina para Europa ainda continua sendo um dos empecilhos.

O Mercosul acredita ser "muito possível" que o acordo comercial com a União Europeia (UE), processo iniciado há 17 anos, seja finalmente anunciado dentro de dez dias em Buenos Aires.

"É muito possível que o anúncio político" seja feito na reunião ministerial da Organização Mundial de Comércio (OMC) que decorrerá na capital argentina entre 10 e 13 de dezembro, disseram em Brasília membros da equipe de negociação do Mercosul citados pela agência de notícias Efe.

Na semana passada, representantes dos dois blocos iniciaram uma nova rodada intensiva de negociações em Bruxelas. O comissário europeu de Agricultura e Desenvolvimento Rural, Phil Hogan, afirmou que a Comissão Europeia está trabalhando num novo acordo, mas destacou que o pacto também depende dos países do Mercosul.

"A UE quer um acordo no fim do ano, mas certamente há uma grande distância entre nós e os países do Mercosul em muitas áreas nesse momento", explicou o comissário.

Produtos de discórdia

Agricultura, serviços e acessos aos mercados dos blocos são alguns dos temas que mais separam os dois blocos. No entanto, um dos pontos mais disputados é a busca por uma solução para produtos agrícolas sensíveis, como a carne bovina e o etanol.

A União Europeia ofereceu em setembro passado quotas anuais de 70 mil toneladas de carne bovina e de 600 mil toneladas para o etanol, o que foi considerado escasso pelo grupo que integra a Argentina, o Brasil, o Paraguai e o Uruguai. No caso da carne bovina, países agrícolas da UE, como Irlanda e França, se preocupam com a possibilidade de perdas para seus produtores.

As dificuldades impostas pelos países do Mercosul em relação aos produtos agrícolas foram criticadas pelo ministro europeu Hogan, que avaliou que não há "reciprocidade" em relação a outros pontos discutidos no acordo.

"Esse é um acordo que abrange muito mais do que carne, uma ampla variedade de produtos que a UE quer exportar aos países do Mercosul e que não estão sendo levados em consideração nesse ponto das negociações. Tem de haver reciprocidade em relação ao valor de mercado, e não vemos isso nesse momento", disse Hogan.

No entanto, o comissário espera que os representantes do Mercosul sejam mais flexíveis no dia 10 de dezembro, em Buenos Aires, num encontro que ocorrerá em paralelo à reunião ministerial da Organização Mundial de Comércio.

"Tensão pré-nupcial"

Ainda não está claro se um acordo poderá ser assinado até o fim do ano. Na recente rodada de conversas entre os negociadores, realizada entre 6 e 10 de novembro em Brasília, não se tratou, por exemplo, como cada mercado se abrirá ao outro, um dos principais pontos do acordo.

A expectativa do governo brasileiro, no entanto, é que a conclusão política do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia seja anunciada ainda este ano.

Em fins de outubro, o embaixador Ronaldo Costa Filho, diretor do Departamento de Negociações Internacionais do Itamaraty, afirmou que o que aconteceu, quando a UE apresentou propostas de cotas de importação de carne bovina e etanol bem abaixo do esperado pelo Mercosul, foi apenas "tensão pré-nupcial".

"O importante é que o compromisso se mantém firme e a UE tem interesse em fechar acordo", disse ele.

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