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Estratégia «Uma Faixa, Uma Rota» encaminha África rumo à China

A tendência de isolacionismo na cooperação externa evidenciada pela nova administração dos Estados Unidos, em particular com África, leva alguns analistas a prever que a estratégia chinesa “Uma Faixa, Uma Rota” venha a assumir um impacto ainda maior naquele continente.

Depois de nos primeiros contactos com o Departamento de Estado a equipa do Presidente Donald Trump ter revelado cepticismo quanto à eficácia na competição com a China de programas de cooperação com o continente africano, em particular do African Growth Opportunity Act (AGOA), vários apelos públicos têm sido feitos a favor da manutenção do programa, que inclui todos os países africanos de língua portuguesa.

Para Calton Cadeado, docente e investigador do Instituto de Relações Internacionais, em Maputo, a África terá de mostrar o seu valor estratégico à nova administração, para não haver um desinvestimento de Washington em relação a anteriores administrações.

Mas, afirmou o investigador em declarações recentes à Voice of America, “se Trump abandonar (o continente africano), os outros competidores não o irão abandonar (…) e vão ganhar espaço.”

Manuel Ennes Ferreira, investigador do Instituto Superior de Economia e Gestão, em Lisboa, afirma que, apesar do pequeno peso das relações comerciais africanas com os Estados Unidos, o impacto de políticas “isolacionistas” não será indiferente para o continente.

“A suspensão de acordos comerciais que tem vindo a ser anunciada pode vir a estender-se ao AGOA. As consequências serão uma diminuição das exportações africanas para os EUA em virtude da reposição das barreiras aduaneiras”, escreveu o investigador em artigo publicado no semanário Expresso.

“Mais complicada” a longo prazo para os EUA, adianta, é a estratégia “Uma Faixa, Uma Rota”, cuja rota marítima terá ponto de ligação no Quénia, com um centro de difusão para o interior do continente baseado no caminho-de-ferro de bitola padrão, no valor de 3,8 mil milhões de dólares, que deverá ficar concluído em 2017.

A proposta chinesa inclui ainda o financiamento de corredores de infra-estruturas ferroviárias, rodoviárias e energéticas, interligando aos países vizinhos (Burundi, RD do Congo, Ruanda, Sudão do Sul, Tanzânia e Uganda), projectos enquadrados num pacote de 60 mil milhões de dólares prometidos pela China em Dezembro de 2015.

Os projectos, afirma Ennes Ferreira, irão estimular o comércio interafricano e internacional e a estratégia “Uma Faixa, Uma Rota” “terá a vida mais facilitada se os EUA voltarem as costas ao Mundo.”

Lauren A. Johnston, do Melbourne Institute of Applied Economic and Social Research, lembra num artigo recente a forma como Justin Lin, ex-economista chefe do Banco Mundial, traduziu a oportunidade para África na edificação de obras há muito necessárias criada pela iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota.”

Johnston afirma que, independentemente do desempenho autónomo africano, a iniciativa da China está a atrair a atenção mundial para o vasto potencial de desenvolvimento do continente, que tem economias menos desenvolvidas mas grande número de jovens, quando a maioria dos países membros da OCDE e mesmo do Grupo dos 20 alberga populações em processo de envelhecimento.

Mesmo no actual momento de crise vivido em países africanos, o apoio da China tem-se mantido firme, como é o caso de Angola.

A Economist Intelligence Unit afirma que a China é a origem “predominante” dos 11,5 mil milhões de dólares de dívida externa contraída por Angola desde Novembro de 2015, permitindo colmatar o défice causado pela quebra dos preços do petróleo.

“O governo angolano vai continuar a procurar empréstimos da China para permitir que continue muitos programas de despesas de capital, por exemplo a construção de estradas e de centrais eléctricas”, refere a EIU. (Macauhub)